9/9

Hoje é o nono dia do mês de setembro. Segundo algumas crenças, um portal para desapegos e reflexão. O nove é um número que representa a completude de uma gestação, um passo para o recomeço, e faz bastante sentido deixar para traz o que já não cabe mais para a próxima caminhada. Este começo de primavera, dos meses de luz, tem me despertado um estado de reflexão e autoconhecimento que nunca experimentei de fato, não dessa forma. 

Não acredito em desapegos instantâneos, não é um trabalho de um dia só. Desapegar é processo, dor que exige engajamento diário e um gasto de energia para adquirir um hábito novo, o hábito de deixar ir. Desapego é luto. Mesmo que o objeto do desapego seja de fato algo que está fazendo mal ou atrapalhando de alguma forma, é muitas vezes doloroso deixar ir uma ideia que já fez residência, já virou um só com a gente. Sinto mesmo que estou desapegando de algumas coisas, ou estou no processo. Hoje eu entendo que tem coisas que estão agarradas em mim e que isso me pesa na jornada. É sempre difícil admitir caminhos que não deram certo, uma bussola que não funciona. Mais difícil ainda é saber que para continuar é preciso voltar ao ponto de escolha e enxergar os caminhos possíveis, uma encruzilhada que esteve nublada demais para se ver. 

Meus caminhos foram guiados, nunca foi permitido experimentar ou errar, nunca pude olhar horizontes diferentes porque precisava andar rápido, escolher com pensamento prático e resiliência. Este é o segredo - nunca te permitem andar devagar suficiente para ter tempo de pensar. Minhas escolhas foram sutis sugestões em forma de culpa e impedimentos junto com a pressa de uma vida a ser vivida logo. E eu vivi, só não era realmente a vida que eu esperava para mim. Vivo esse luto do desapego porque é preciso desapegar, mas desapegar ideias é muito mais difícil do que a palavra faz parecer. Queria poder dizer que não existem culpados, mas não é verdade. Embora não se possa vê-los ou nomeá-los com a clareza adequada, o mundo é um lugar social onde se vive em constante interferência dos outros. 

Não tenho certeza se nomear culpados ajudaria em um processo tão delicado, mas tenho sim a certeza de que é preciso materializar o que nos impede de seguir e por isso desapegar é doloroso. Escolhas e ideias ficaram grudadas de forma que não sei mais o que sou eu e o que são minhas cargas desnecessárias. Por enquanto vai bastar saber que não fui totalmente livre, que as escolhas da minha jornada não foram totalmente minhas e tão pouco foram obra divina ou do acaso.  Gosto do místico na ideia de um portal para o desapego, serve como um começo e uma reflexão, mas é preciso ter a dimensão do quão longo é o processo de desapegar. Dá medo e é assustadoramente libertador, mas ser leve, ser livre, ainda é o maior presente que alguém pode se dar para o começo de uma nova jornada.

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